A Mulher da Casa Abandonada, Desconhecido e O Ateliê: como Chico Felitti descobre histórias escondidas por São Paulo?
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.
Jornalista e escritor, Francisco Dias Felitti tem o dom de contar histórias. Do drama ao true crime, Chico Felitti consegue não somente se envolver em narrativas inusitadas, como também transportar ouvintes e leitores para seu mundo de entrevistas e observações.
Conhecido, principalmente, pela matéria do “Fofão da Augusta“ e pelo podcast “A Mulher da Casa Abandonada“, o jornalista explora do texto ao áudio, e em ambos consegue criar a ambientação perfeita para o que deseja relatar.
O TINO JORNALÍSTICO
Encontrar personagens que escondem histórias tão interessantes não é um exercício fácil, mas para Chico, isso é quase um passatempo. O repórter começou sua carreira como assessor de imprensa de moda, migrou para um site de colunismo social e, com 19 anos, foi trainee na Folha de São Paulo. No jornal, descobriu sua paixão em contar narrativas vividas por outras pessoas. Em entrevista para a Her Campus Cásper Líbero, Chico diz:
“Descobri que dava para ganhar um salário para fazer o que eu gostava de fazer que era ficar ‘saracoteando’, contando história, encontrando gente. Falei ‘Cara, isso é uma profissão? Eu não sabia que era uma profissão!’”
Um homem que anda de pulôver mesmo no calor? Isso não escaparia ao olhar atento de Felitti. Ricardo Corrêa era um artista de rua que entregava panfletos de peças de teatro na região da Rua Augusta, no centro de São Paulo. Ele era conhecido devido sua aparência: bochechas que, devido a alguma substância, eram muito maiores que o tamanho natural, fazendo com que “caíssem” do rosto – como o personagem infantil dos anos 80. Por esse motivo, o apelido.
O homem era quase que uma lenda urbana de São Paulo, todos os moradores da região da Avenida Paulista sabiam de sua existência, mas ao menos tinham interesse em conhecê-lo de verdade. Foi justamente essa a diferença entre eles e Chico Felitti: em uma tarde de Páscoa, o jornalista descobre que Ricardo está hospitalizado, e procura pelo homem (sem sequer saber seu nome!) junto com Isabel Dias, sua mãe.
Chico vai atrás de personagens, sem ter noção do que iria encontrar pelo caminho. Ao ir em busca do “Fofão da Augusta”, o jornalista não esperava que com ele, acompanhava uma história imprevisível: a decadência de um reconhecido cabeleireiro e maquiador dos anos 70.
Com a repercussão da reportagem, Chico Felitti escreveu um livro sobre a história, contando além de Ricardo – uma história de romance. “Um capítulo genial e inesperado: Vânia, o grande amor da sua vida, que transformou o próprio rosto e se tornou uma cópia do namorado”, como consta na obra Ricardo e Vânia.
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MAS, SEMPRE TEM HISTÓRIA?
São inúmeros trabalhos. Podcasts como O Ateliê, que relata a denúncia de uma pintora sobre uma seita disfarçada de escola de artes no centro de São Paulo; A Mulher da Casa Abandonada, sobre uma mansão fora dos padrões para um bairro como Higienópolis, que abrigava uma mulher que já foi procurada pelo FBI, e A Coach. Livros como A Casa, sobre a seita de João de Deus, e Rainhas da Noite, as travestis que tinham São Paulo aos seus pés. E outras produções, como Além do Meme e Isso Está Acontecendo, em parceria com o Fantástico.
Entre tantas histórias inusitadas publicadas, um jornalista certamente tem diversos rascunhos que não deram certo e foram jogados fora. É exatamente o caso de Chico: “O tempo inteiro! 99% das vezes você fala: ‘Pô, é muito legal, vai ter uma história maravilhosa’ que você chega lá e não tem nada”
Chico nos contou que, alguns anos atrás, quando estava na Folha, recebeu uma ligação contando sobre uma história intrigante: “Olha, a gente tá desconfiando que os donos de um restaurante matam cachorro e servem no restaurante. A gente ouve os ganidos de cachorro a noite, e a gente tá vendo que eles penduram carne de cachorro no varal.” Denunciaram para polícia.
Felitti acompanhou a entrada da polícia, porque um repórter não pode entrar na casa de alguém, e descobriu que o que penduravam era frango, tratava-se de uma receita chinesa. Era caso de preconceito, xenofobia, com uma família, porque ela era chinesa. “Hoje em dia teria publicado essa história da denúncia e da xenofobia, mas na época eu falei: “Ah, não tem sentido”, disse o jornalista.
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Apesar de nem todo caso render uma boa matéria, quando se trata de pauta, tudo ao redor pode ser uma fonte de inspiração. Chico Felitti não é um milagreiro que descobre histórias fantásticas por aí. Um bom assunto está em todo lugar, por toda parte. Todo mundo pode encontrá-lo: basta ter o brio de se atentar à vida que acontece à nossa volta.
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O artigo acima foi editado por Luana Zanardi.
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