A maldita: conheça a história da rádio Fluminense FM
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.
Há mais de 100 anos, o rádio surgiu como um dos maiores meios de comunicação no Brasil. O veículo, que vai além de um eletrodoméstico, intensifica o apego em massa ao ouvir uma música favorita logo pela manhã ou receber aquela mensagem motivacional proferida por uma voz marcante e vivaz.
Neste centenário, 60 anos marcam um novo período da história nacional: a instauração do regime militar, onde se utilizou do rádio para veicular programas oficiais, propagandas e a resistência contra o governo.
Em meio a esse cenário, um trio de radialistas decidiu fazer diferente do convencional. Entre os 20 e 30 anos de idade, Amaury Santos e Sérgio Vasconcellos, liderados por Luiz Antonio Mello, criaram a “Fluminense FM – A Maldita”, uma extensão do Grupo Fluminense, em Niterói, no Rio de Janeiro.
“Um dia, eu e o Samuca (Samuel) Weiner, meu amigo já falecido, fomos levar um programa chamado ‘Rock Alive’. Chegando lá, falamos com o superintendente do Grupo Fluminense, que era o Ephrem Amora, e ele disse que o negócio dele era mais jornal, não rádio. No dia seguinte, ele deixou um recado na secretária eletrônica do Samuca, dizendo que queria falar conosco. Ele perguntou se, em vez de um programa, não queríamos montar a rádio inteira. Eu fiquei em uma euforia.”
Luiz Antonio Mello, em entrevista para o jornal A Tribuna, em 2022.
Depois de 15 dias, Samuel comunicou que não poderia ficar e então Sérgio, Amaury e Luiz deram continuidade ao projeto em julho de 1981. Inaugurada oficialmente em 1º de março do ano seguinte, a Maldita ocupou o dial que era anteriormente da Rádio Difusora Fluminense.
“Fizemos um concurso para locutoras, e mais de 300 mulheres se candidataram. A estreia foi na madrugada de 1° de março de 1982 e estávamos eu, Sérgio e Amaury.
Nos abraçamos e dissemos ‘Fluminense FM Maldita!’. Não sabiamos, mas estávamos carimbando o apelido, já que ela era maldita por tocar o que era considerado maldito pelo mercado”.
Dedicada 24 horas ao rock, a Maldita deu novas oportunidades para novas bandas que surgiam no cenário nacional, assim como foi um marco para o avanço da locução feminina na rádio em solo brasileiro. Entre as vozes que mesclavam com o rock pesado, se destacavam Selma Boiron, Edna Mayo, Liliane Yusim, Cristina, Selma Vieira e Monika Venerabile.
“Sou da primeira geração de mulheres no rádio jovem que sonhava ter espaço na locução. Comecei em 1982, no primeiro time exclusivamente feminino, na Rádio Fluminense FM. A partir daí, segui trabalhando em FMs até 2021, gravando publicidade, podcasts, áudios diversos. A partir dessa primeira geração nos 1980, toda emissora de FM começou a incluir ao menos uma voz feminina em seus quadros”.
Selma Boiron para A Tribuna em “Mulheres no rádio: o microfone também é delas”, de 2023.
Nas condições de um estúdio da década de 80, a rádio dava espaço aos ouvintes escolherem o que iria tocar. O espaço não foi dado somente ao público, mas às bandas que estavam entrando na indústria. Legião Urbana, Paralamas do Sucesso e Kid Abelha foram tocadas na pioneira Fluminense FM antes de firmarem grandes contratos.
A “maldita”, junto às bandas musicais, fizeram parte de um fenômeno cultural que excedeu um contexto alternativo e se tornou um vício nacional.
Com um pouco mais de uma década mantendo um alto índice de ouvintes diariamente, a Maldita chegou ao fim e foi encerrada em 1994 quando a emissora foi substituída pela primeira afiliada da Jovem Pan FM no Rio de Janeiro.
Reconhecida por sua programação provocativa, a rádio ganhou reputação como uma voz corajosa, trazendo à tona vozes que seriam fundamentais para a indústria musical nacional e internacional. Da voz de todos e para todos: a Maldita!
A Maldita no Rock in Rio de 1985
Em 1984, a telefonista da Rádio Fluminense FM recebeu uma ligação do empresário Roberto Medina. Inicialmente, suspeitas de um possível trote circularam no ambiente, mas para surpresa de todos, era de fato Roberto Medina quem ligava.
A proposta de uma reunião na agência de Medina, a Artplan, situada na Fonte da Saudade, zona sul do Rio, despertou curiosidade na equipe da rádio. Ao chegar à agência, foram recebidos calorosamente por Medina, que os conduziu até seu gabinete. Estavam presentes Luiz Oscar Niemeyer, figura proeminente e produtor-mor do Rock in Rio de 1985, e Oscar Ornstein, conhecido por trazer Frank Sinatra para uma apresentação no Maracanã em 1980.
Nessa reunião, Medina compartilhou seus planos de realizar o maior festival de rock do mundo. Ele buscava a opinião da equipe da Maldita e planejava uma enquete junto aos ouvintes para ajudar na escolha dos artistas que subiriam no palco do festival.
Após a reunião, a rádio organizou uma enquete com os ouvintes para saber suas preferências musicais. O resultado mostrou uma forte inclinação pelo Led Zeppelin, seguido de perto pelo Dire Straits.
Essa colaboração entre a Rádio Fluminense FM e Medina foi crucial para o sucesso do primeiro Rock in Rio, realizado em janeiro de 1985, um marco na história dos festivais no Brasil.
“Aumenta que é Rock’n Roll”
Dirigido por Tomás Portella, Aumenta que é Rock’n Roll estreou nas salas de cinema do Brasil no final do último mês. O longa homenageia a história da Rádio Fluminense FM e foi baseado no livro autobiográfico “A Onda Maldita”, de Luiz Antonio Mello, personagem de Johnny Massaro.
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Além de Johnny Massaro, o elenco de Aumenta que é Rock’n Roll conta com Marina Provenzzano, George Sauma, Orã Figueiredo, Silvio Guindane (Vai Que Cola), João Vitor Silva, Bella Camero, Saulo Arcoverde e Flora Diegues, um de seus últimos papéis antes de falecer em 2019.
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Texto editado por Ana Luiza Sanfilippo
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